ENVIADA PARA O PEDRO
Subindo
a Consolação, me deparei com algo extremamente incomum. Um homem de roupas
sujas, dentes pretos e barba feita me parou. Olhando para minha cabeça, falou
“vocês estão na festa do bom saber, não?”.
Estranhei.
Quem é esse cara? O que ele quer comigo?
Será que quer me matar? Ou será que quer me abraçar? Será que quer ser meu
amigo? Ou inimigo? Quantos anos será que ele tem? Qual é a idade dele? Será que
ele tem pai? Mãe? Irmão? Tio, avô?
Mas
logo entendi. Ele se referia a Pessach (páscoa judaica), pois olhava para o
solidéu que eu estava usando.
Começou
então um desenrolar de idéias. Não sei como aquela conversa, que começou com o
bom saber, foi parar em “quanto mais rico o pai da criança maior o ovo de
chocolate que ela ganha, e mais legal é ela”. Desta frase fomos para no
capitalismo e para as críticas a sociedade mal-humorada e
“trabalhadora” dos motoristas que param no sinal.
A
conversa que havia começado na travessa da Rua Fernando de Albuquerque, acabou
logo depois, na travessa da Rua Matias Aires com a Consolação.
A
conversa havia durado somente uma quadra, mas para mim aquilo tinha durado uma
eternidade.
Continuei
meu caminho, mas não conseguia parar de pensar no tal homem culto. Será que ele virou meu amigo? Será que eu
virei amigo dele? Queria tanto encontrá-lo
de novo. Queria saber o que ele faz. Qual seria sua profissão? Ainda nem sei o
nome dele. Bem que eu poderia passar o dia com ele. Ele é muito legal. Será que
ele acha o mesmo de mim? Esta história daria uma boa crônica. Será que ele iria
ficar incomodado se eu fizesse uma crônica sobre ele? Acho que não.
Ainda
no mesmo dia estava voltando para casa, descendo a Consolação, e me deparei
novamente com ele... O tal senhor tão respeitoso, na verdade, era um ARTISTA de
rua. Encontramos-nos, novamente, no sinal da Rua Matias Aires com a Consolação.
O
sinal estava fechado para os pedestres, então comecei a conversar com meu
colega de ideias. Ele me disse que fazia o que gostava e não precisava de que
os motoristas lhe oferecessem dinheiro e sim que os motoristas lhe oferecessem
ATENÇÃO.
O
sinal abriu. O tal artista me pediu para ver seu show... Ele era um artista
mesmo! Com dois paus ele se equilibrava e fazia manobras com uma tocha, com
fogo nas duas pontas!
Ao
final do show ele tentou fazer com que os motoristas se animassem, mas nenhum
sorriso brotou das bocas fechadas dos motoristas.
O
sinal se fechou e nada de sorrisos ou feixes de atenção... O artista se retirou
do meio da rua e foi para a calçada. Nos despedimos, e nunca mais nos vimos...
Será mesmo que ele me achou legal?
Ou eu era só um objeto de discussão para ele?
De qualquer jeito, eu arrumei um amigo...
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