domingo, 7 de abril de 2013

Fantasia Traiçoeira


ENVIADA PARA O PEDRO
         Outro dia fui passar o fim de semana em um sítio em campinas...
         A casa era grande e as paredes avermelhadas refletiam e contrastavam com o brilho azulado da piscina cristalina. O verde das árvores ressaltava o orvalho reluzente que descia redondo pelas folhas da palmeira. Tudo continuava monótono, o sol já se escondia atrás das nuvens carregadas da mais pura das águas, da água da mágoa de Deus, que contrastavam com o monótono trabalho do Diabo. Mesmo com a obra do Diabo permanecendo na terra firme, a monotonia daquela cesta de vime me intrigou: em cima de uma pequena mesa a cesta de vime abraçava com todo carinho uma mexerica, um cacho de bananas e dois limões foscos.
         A mexerica, que brilhava feito uma estrela, me intrigou mais ainda. Não foi o fato da mexerica brilhar que me intrigou e sim o fato de que ela brilhava estranhamente, ela brilhava (não sei como) falsamente. Naquela hora o Doutor Hipóteses bateu na pequena porta de minha cabeça, eu abri, e, de repente ele começou a fazer uma bagunça, soltava ideias para todo o lado: Talvez fossem as gotículas de água, que se instalavam na pele espessa da casca, que brilhavam, pois refletiam a luz da lamparina. Talvez fosse uma mera ilusão. Talvez toda mexerica brilhasse daquele jeito. Talvez aquilo não fosse uma mexerica, e sim, um disco voador disfarçado, que não conseguia esconder o brilho por ser feito de metal... Nenhuma das ideias do Doutor Hipóteses me satisfez, então a Senhora Curiosidade teve que agir: ela pegou uma faca, e com muita rapidez, matou a Dona Preguiça.
         Forçado pela nova ditadora, Senhora Curiosidade, fui obrigado a me levantar e me dirigir a mexerica.
         Passei, levemente, o dedo por cima da tal mexerica brilhante, e então, senti...
         Senti a falsidade humana, a falsidade capitalista, a prova do capital instaurada até nos pensamentos mais distantes da grande metrópole...
         “Deus nos proporciona as suas lágrimas, enquanto o Diabo torna nossa existência uma monotonia capital, uma fantasia traiçoeira, que torna até os instantes mais verdadeiros em falsos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário