ENVIADA PARA O PEDRO
Outro dia
fui passar o fim de semana em um sítio
em campinas...
A casa era
grande e as paredes avermelhadas refletiam e contrastavam com o brilho azulado
da piscina cristalina. O verde das árvores ressaltava o orvalho reluzente que descia redondo pelas folhas da
palmeira. Tudo continuava monótono, o sol já se escondia atrás das nuvens
carregadas da mais pura das águas, da água da mágoa de Deus, que contrastavam
com o monótono trabalho do Diabo. Mesmo com a obra do Diabo permanecendo na terra
firme, a monotonia daquela cesta de vime me intrigou: em cima de uma pequena
mesa a cesta de vime abraçava com todo carinho uma mexerica, um cacho de
bananas e dois limões foscos.
A mexerica,
que brilhava feito uma estrela, me intrigou mais ainda. Não foi o fato da
mexerica brilhar que me intrigou e sim o fato de que ela brilhava
estranhamente, ela brilhava (não sei como) falsamente. Naquela hora o Doutor
Hipóteses bateu na pequena porta de minha cabeça, eu abri, e, de repente ele
começou a fazer uma bagunça, soltava ideias para todo o lado: Talvez fossem as gotículas de água, que se
instalavam na pele espessa da casca, que brilhavam, pois refletiam a luz da
lamparina. Talvez fosse uma mera ilusão. Talvez toda mexerica brilhasse daquele
jeito. Talvez aquilo não fosse uma mexerica, e sim, um disco voador disfarçado,
que não conseguia esconder o brilho por ser feito de metal... Nenhuma das
ideias do Doutor Hipóteses me satisfez, então a Senhora Curiosidade teve que
agir: ela pegou uma faca, e com muita rapidez, matou a Dona Preguiça.
Forçado
pela nova ditadora, Senhora Curiosidade,
fui obrigado a me levantar e me dirigir a mexerica.
Passei,
levemente, o dedo por cima da tal mexerica brilhante, e então, senti...
Senti a
falsidade humana, a falsidade capitalista, a prova do capital instaurada até
nos pensamentos mais distantes da grande metrópole...
“Deus nos proporciona as suas lágrimas, enquanto o Diabo torna nossa
existência uma monotonia capital, uma fantasia traiçoeira, que torna até os
instantes mais verdadeiros em falsos”.
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