quinta-feira, 4 de abril de 2013

Oi, tudo bem?

ENVIADO PARA LUANA
          Oi.
          Olá.
          Tudo bem?
          Sim, e você?
          Sim, estou bem.
          Tchau!
          Até mais!
         Esta conversa monótona de elevador me intriga. Será que meu companheiro de elevador estava mesmo bem?
         Aquele senhor todo respeitoso de calça preta, paletó cinza, gravata bege e cara fechada não podia estar bem. Ele poderia ter brigado com a mulher, o seu cachorro poderia ter estraçalhado seu jornal, sua filha poderia estar brava com ele, sua casa poderia ter desabado, seu filho poderia ter sido reprovado em matemática na escola... Tudo poderia ter acontecido, e só no último do caso, ou talvez nunca, a verdade seria revelada.
         A boca seca que contrastava com seus olhos castanhos, expressava um tom de desconfiança.
      Será que aquele homem pensava o mesmo que eu? Será que ele também se intrigava com aquela conversa?
      Pode ser que ele pensasse: Aquele menino não está bem, ele pode ter sido reprovado em história, pode ter acabado de perder a namorada, pode ter acabado de perder seu dever na boca do seu cachorro, MAS A ÚNICA COISA QUE NÃO PODE TER ACONTECIDO A ESTE MENINO, É ELE ESTAR BEM!!!
        Se ambos pensamos do mesmo jeito, por que não mudamos a nossa monótona conversa de elevador para algo assim:
           Olá, tudo bem?
          Não, não está nada bem, meu periquito morreu, meu cachorro comeu minha lição, eu acabo de pisar no cocô e este chiclete não quer sair do meu pé, esta vida está um inferno, não?
          Claro... Minha mulher tá uma fera, minha filha não quer nem falar comigo, e, ainda por cima, meu filho foi reprovado em matemática, Tá difícil mesmo viver hoje em dia.
            Tchau!
            Até mais!
         Talvez, se os papos monótonos de elevador se tornassem assim, verdadeiros, não precisaríamos mais de psicólogos, pois desabafaríamos tudo no nosso parceiro de elevador. Para isso acontecer, no entanto, ou os elevadores teriam que ser mais lentos, ou, teríamos que incluir um curso intensivo de locutor de rádio e outro de paciência em todas as escolas do mundo.
         Mas enquanto o governo não toma iniciativa para a melhoria das nossas conversas de elevador, é melhor continuarmos com o monótono, falso e agradável:
 TUDO BEM?
 SIM, E VOCÊ?
 TUDO.
 TCHAU!
 ATÉ MAIS!



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