ENVIADO PARA LUANA
— Oi.
— Olá.
— Tudo bem?
— Sim, e você?
— Sim, estou bem.
— Tchau!
— Até mais!
Esta conversa monótona de elevador me
intriga. Será que meu companheiro de elevador estava mesmo bem?
Aquele senhor todo respeitoso de calça
preta, paletó cinza, gravata bege e cara fechada não podia estar bem. Ele
poderia ter brigado com a mulher, o seu cachorro poderia ter estraçalhado seu
jornal, sua filha poderia estar brava com ele, sua casa poderia ter desabado,
seu filho poderia ter sido reprovado em matemática na escola... Tudo poderia
ter acontecido, e só no último do caso, ou talvez nunca, a verdade seria
revelada.
A boca seca que contrastava com seus
olhos castanhos, expressava um tom de desconfiança.
Será que aquele homem pensava o mesmo
que eu? Será que ele também se intrigava com aquela conversa?
Pode ser que ele pensasse: Aquele
menino não está bem, ele pode ter sido reprovado em história, pode ter acabado
de perder a namorada, pode ter acabado de perder seu dever na boca do seu
cachorro, MAS A ÚNICA COISA QUE NÃO PODE TER ACONTECIDO A ESTE MENINO, É ELE
ESTAR BEM!!!
Se ambos pensamos do mesmo jeito,
por que não mudamos a nossa monótona conversa de elevador para algo assim:
— Olá, tudo bem?
— Não, não está nada bem, meu periquito
morreu, meu cachorro comeu minha lição, eu acabo de pisar no cocô e este
chiclete não quer sair do meu pé, esta vida está um inferno, não?
— Claro... Minha mulher tá uma fera,
minha filha não quer nem falar comigo, e, ainda por cima, meu filho foi
reprovado em matemática, Tá difícil mesmo viver hoje em dia.
— Tchau!
— Até mais!
Talvez, se os papos monótonos de
elevador se tornassem assim, verdadeiros, não precisaríamos mais de psicólogos,
pois desabafaríamos tudo no nosso parceiro de elevador. Para isso acontecer, no
entanto, ou os elevadores teriam que ser mais lentos, ou, teríamos que incluir
um curso intensivo de locutor de rádio e outro de paciência em todas as escolas
do mundo.
Mas enquanto o governo não toma
iniciativa para a melhoria das nossas conversas de elevador, é melhor
continuarmos com o monótono, falso e agradável:
— TUDO BEM?
— SIM, E VOCÊ?
— TUDO.
— TCHAU!
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